Enquanto Platão
Franklin Leopoldo e Silva
Essa diferença, decisivamente importante para entender os dois autores e as vertentes filosóficas a que dão origem, não nos deve fazer esquecer, no entanto, que ambos consideram que há uma nítida distinção entre o conhecimento sensível e o intelectual, e que o segundo é hierarquicamente superior ao primeiro. O que Aristóteles rejeita em Platão é a interpretação dessa diferença como separação e a conseqüente duplicação da realidade em dois mundos, o que faz do processo de conhecimento uma ascensão metódica do mundo sensível ao mundo inteligível e, no limite, o abandono dos conteúdos sensíveis em prol da intuição das formas inteligíveis.
Para Aristóteles, o conhecimento consiste em descobrir no sensível as condições de sua própria inteligibilidade. Pressupõe-se, então, que é possível passar de um primeiro contato com a multiplicidade contingente das coisas percebidas ao conhecimento intelectual da ordem e da estrutura, ou seja, é possível transformar a experiência imediata em compreensão teórica mediada por categorias e princípios que nos permitem saber não apenas que as coisas existem, mas também como e por que elas são tais como se apresentam aos nossos sentidos e ao nosso intelecto.
Dentre as condições ou requisitos de inteligibilidade destaca-se a causalidade: quando entendemos que a gênese e a estrutura de tudo que existe depende de causas, atingimos um patamar de ordem e de articulação em que todos os elementos das coisas tornam-se explicáveis. Entendemos que algo existe porque é feito de uma determinada matéria; que obedece a uma certa forma; que o fato de algo vir a existir depende de uma ação e de um agente e que se destina a alguma finalidade. Assim podemos articular a imensa variedade do real com a unidade intelectual de uma noção que nos permite compreender a pluralidade e a composição pela unidade e pela simplicidade. Da mesma maneira compreendemos que a variedade das qualidades que apreendemos nas coisas articula-se em torno da substância ou essência, o atributo principal que confere à multiplicidade qualitativa, em muitos aspectos acidental e passageira, a unidade de uma coisa, uma realidade dotada de permanência.
A visão dessa ordem é também o impulso para que procuremos seu princípio e sua razão de ser, o elemento primeiro que dá origem ao universo dos fenômenos e que deve ser entendido como Causa na acepção mais elevada, porque sua posição o coloca como absoluto, isto é, uma existência que deve ser pensada como independente de qualquer outra condição. Passando assim da Filosofia Natural à Filosofia Primeira realizamos o conhecimento no mais alto grau que o ser humano possa alcançar; realizamos o propósito implicado na Filosofia como amor ao saber ou como o desejo de saber que anima naturalmente, segundo Aristóteles, todo ser racional.
E por que nos deixamos levar por esse amor e esse desejo? Certamente não nos move qualquer motivação utilitária; a filosofia nada acrescenta à nossa prática natural, à nossa vida estritamente cotidiana. Aristóteles diz mesmo que a filosofia começa quando já estão estabelecidos os meios de satisfazer as necessidades imediatas. A questão é que, quando já temos tudo de que aparentemente necessitamos, um outro desejo nos assola, um outro objeto de amor; e a ele nos dirigimos não movidos por necessidades práticas, mas simplesmente pela admiração, um estado de ânimo que abre a nossa mente para investigar não aquilo de que precisamos, mas aquilo que admiramos e diante do que nos colocamos como que perplexos e tomados por um sentimento de ignorância infinitamente maior do que tudo que já sabemos. Trata-se de um espanto proveniente de que sentimos que tudo que sabemos é nada frente ao que há para saber.
A
Franklin Leopoldo e Silva é
Um comentário:
Gostei muito do artigo. Ficarei grata se me permitir reproduziulo no meu blog.
Abracos
Suely
www.suelymonteiro.blogspot.com
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