A auto-estima é                      a melhor aliada do sucesso na vida pessoal e profissional. Não há idade-limite para conquistá-la
                    
 
                    Rosana Zakabi                    
                                                                 |  | 
                                             | 1                            PAUL CÉZANNE (1839-1906) O pintor francês teve seus quadros rejeitados                            no Salão Oficial de Paris e foi motivo de chacota                            entre os críticos durante anos, mas não                            se deixou abater. "Eu sou um marco na arte", costumava                            dizer. Tinha razão.
 
  2 WALT WHITMAN
 (1819-1892) O poeta americano enaltece a si próprio                            em sua obra-prima Folhas de Relva. "Eu celebro                            a mim mesmo / E o que assumo você vai assumir                            / Pois cada átomo que pertence a mim pertence                            a você", proclamou.
 
  3 TINA TURNER
 A cantora apanhou do marido, Ike Turner, durante quase                            duas décadas até que um dia se convenceu                            do próprio valor, achou-se capaz de mudar de                            vida e seguiu carreira-solo.
 
  4 ALEXANDRE, O GRANDE
 O imperador se considerava um deus. Comparava suas conquistas                            e realizações com as de personagens da                            mitologia grega, como Hércules e Dionísio,
 o deus do vinho.
 
  5 LEWIS HAMILTON
 Aos 10 anos de idade, ainda piloto de kart, o jovem                            inglês se apresentou ao chefão da McLaren,                            Ron Dennis, e disse que um dia ainda faria parte da                            escuderia. Agora, em sua estréia na Fórmula                            1, já é considerado um fenômeno                            nas pistas.
 
  6 MICHEL DE MONTAIGNE
 Em Ensaios, o filósofo francês sugere                            como superar o sentimento de desconforto com o próprio                            corpo, a sensação de que se é pouco                            inteligente e o sentimento de inadequação                            quando algum comportamento é desaprovado pelos                            outros. "A pior desgraça para nós é                            desdenhar aquilo que somos", escreveu.
 
  7 COCO CHANEL
 A estilista desafiou a sociedade do início do                            século XX ao apostar na originalidade de suas                            roupas. "As pessoas costumavam rir da forma como eu                            me vestia", dizia ela. "Mas esse era o segredo do meu                            sucesso. Eu não era parecida com ninguém."
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Os manuais de auto-ajuda                      se incorporaram à vida moderna tanto quanto os telefones                      celulares ou a internet. Cada vez mais gente encontra inspiração                      em seus conselhos para perseguir uma vida melhor, seja do                      ponto de vista material, seja do espiritual. Na lista dos                      livros mais vendidos de VEJA, os títulos de maior sucesso                      ensinam a ficar rico em pouco tempo, a atrair a sorte para                      si próprio e a galgar degraus no trabalho rapidamente.                      Se todos os títulos de auto-ajuda fossem colocados                      em uma centrífuga, o conselho fundamental que daí                      resultaria seria: goste de você, tenha confiança                      em si mesmo, acredite em sua capacidade. Em resumo: preserve                      sua auto-estima. Os psicólogos são unânimes                      em afirmar que a auto-estima é a principal ferramenta                      com que o ser humano conta para enfrentar os desafios do cotidiano,                      uma espécie de sistema imunológico emocional.                      Ela determina, em última análise, a forma como                      nos relacionamos com o mundo. "A pior desgraça para                      nós é desdenhar aquilo que somos", escreveu                      ainda no século XVI o filósofo francês                      Michel de Montaigne. Resume o historiador inglês Peter                      Burke: "A auto-estima é o conceito mais estudado na                      psicologia social, e há um bom motivo para isso. Ela                      é a chave para a convivência harmoniosa no mundo                      civilizado".                    
 A auto-estima é                      vital não apenas para as pessoas mas também                      para as famílias, os grupos, as empresas, as equipes                      esportivas e os países. Sem ela, não há                      terreno fértil para as grandes descobertas nem para                      o surgimento dos líderes. Quem não acredita                      em si mesmo acha que não vale a pena dizer o que pensa.                      Desde o início da civilização, o mundo                      é movido a pessoas que confiam de tal forma nas próprias                      idéias que se sentem estimuladas a dividi-las com os                      outros. Isso vale tanto para cientistas quanto para poetas,                      tanto para artistas quanto para políticos. O filósofo                      grego Aristóteles já observava que a esperança                      e o entusiasmo, juntos, formam a centelha da autoconfiança,                      sem a qual os jovens não teriam futuro.                    
 Antigamente, acreditava-se                      que o grau de auto-estima de uma pessoa era determinado na                      infância e se preservava intocado ao longo da vida.                      A boa notícia é que, nos últimos anos,                      a psicologia derrubou essa teoria. Hoje se sabe que é                      possível desenvolver a auto-estima em qualquer idade                      e mantê-la elevada para sempre. O sucesso dessa empreitada                      depende não apenas da visão que se tem de si                      mesmo, mas também da avaliação que se                      faz da sociedade em que se vive. Em 2004, três estudos                      da Universidade de Dakota do Norte, nos Estados Unidos, envolvendo                      257 estudantes, constataram que os mais pessimistas, que tinham                      uma percepção negativa sobre diversas atividades                      do local em que viviam, também eram os que apresentavam                      a pior impressão de si mesmos. "As pessoas que aprendem                      a adequar sua maneira de agir aos valores da sociedade em                      que vivem são as que possuem auto-estima mais elevada",                      disse a VEJA Shinobu Kitayama, professor de psicologia da                      Universidade de Michigan e autor de um estudo comparativo                      entre a auto-estima de americanos e japoneses.                    
 As pesquisas mais                      recentes sobre auto-estima apresentam outras duas novidades.                      A primeira é que é possível ter auto-estima                      alta e baixa que se alternam. "Um indivíduo pode ter                      confiança plena em si próprio no ambiente profissional,                      mas se sentir a última das criaturas no âmbito                      pessoal, e vice-versa", disse a VEJA o psicólogo Daniel                      Hart, da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, que detalhou                      essa teoria em um artigo do livro Self-Esteem: Issues and                      Answers (Auto-Estima: Casos e Respostas), lançado                      no ano passado. "Isso indica que, para aumentar a auto-estima,                      não basta apenas ter pensamentos positivos generalizados.                      O ideal é concentrar-se nos pontos fracos que podem                      ser mudados e melhorados", observa Hart. Uma pesquisa feita                      há três meses pela Universidade da Flórida,                      nos Estados Unidos, concluiu que um grupo de mulheres que                      implantou silicone nos seios teve sua auto-estima elevada                      no que diz respeito à sexualidade. Em outras áreas,                      como desempenho profissional e satisfação no                      trabalho, a cirurgia não surtiu efeito algum. Ou seja,                      se o problema da auto-estima é na carreira, de pouco                      adianta melhorar a aparência física.                    
 A segunda revelação                      da psicologia no terreno da auto-estima é que algumas                      das características que a compõem podem ser                      hereditárias. Essa descoberta enterra definitivamente                      a noção de que a auto-estima é formada                      apenas durante a infância, em casa, por influência                      dos pais. Recentemente, um grupo de psicólogos da Universidade                      de Southampton, na Inglaterra, fez uma revisão dos                      principais estudos já conduzidos sobre a relação                      entre a auto-estima e os fatores genéticos. O trabalho                      foi publicado no European Journal of Personality. Uma                      das pesquisas foi realizada com 738 pares de gêmeos                      adultos que viviam separados um do outro havia pelo menos                      um ano e meio. Embora morando em ambientes totalmente diferentes,                      os gêmeos univitelinos, que têm o código                      genético idêntico, apresentaram o mesmo grau                      de auto-estima. Já os gêmeos bivitelinos, que                      não foram gerados no mesmo óvulo, desenvolveram                      graus de auto-estima diferentes. Outros estudos, feitos com                      filhos adotivos, também indicaram que a genética                      pode ter um peso considerável na auto-estima. Segundo                      as pesquisas, a auto-estima de crianças adotadas não                      é influenciada pelo comportamento dos pais adotivos.                      "Existe um conjunto de fatores que nos leva a crer que os                      genes exercem um papel crucial no desenvolvimento da auto-estima",                      disse a VEJA o americano William Swann, professor de psicologia                      social da Universidade do Texas e autor de vários artigos                      sobre o tema. "O que ainda não sabemos é quanto                      da auto-estima é formado pelos genes e quanto é                      resultado do ambiente. Quando tivermos essa resposta, poderemos                      tratar o problema da baixa auto-estima de maneira muito mais                      eficiente", afirma ele.                    
 O primeiro passo                      para melhorar a auto-estima, segundo médicos e psicólogos,                      é identificar os comportamentos e as crenças                      negativas que foram construídos durante a vida. Coisas                      como acreditar-se incapaz de realizar grandes projetos, de                      conseguir um bom marido ou uma boa esposa e achar que subir                      na carreira e ganhar mais dinheiro é privilégio                      apenas das outras pessoas. A partir daí, é preciso                      questionar essas crenças. As que não contribuírem                      para uma vida harmoniosa devem ser limadas do comportamento                      do dia-a-dia. Segundo os psicólogos, são os                      pensamentos e as atitudes próprios – e não                      os eventos externos – que moldam os sentimentos. Assim,                      se um indivíduo tem uma visão distorcida e negativa                      de si mesmo, terá auto-estima baixa. Ter baixa auto-estima                      não significa, necessariamente, ter depressão,                      mas uma coisa pode levar a outra. "Uma pessoa com baixa auto-estima                      se enxerga de maneira negativa, mas consegue levar uma vida                      normal. Quem tem depressão, além dessa visão                      negativa, perde a motivação para viver", diz                      a psicóloga Eliana Melcher Martins, da Universidade                      Federal de São Paulo (Unifesp). "Mas um indivíduo                      com depressão sempre tem auto-estima baixa, pois essa                      sensação de incapacidade é um dos aspectos                      que podem torná-lo depressivo", ela completa.                    
 Existem seis regras                      básicas para elevar a auto-estima e ganhar confiança                      de maneira permanente. Elas funcionam a partir do momento                      em que se decide identificar as crenças negativas e                      se trabalha continuamente para modificá-las. As regras                      são as seguintes:                    
 • Examinar o                      passado. Esse é um passo crucial para elevar a                      auto-estima. Ao fazer essa retrospectiva, é possível                      perceber que alguns erros do passado podem ser corrigidos                      e outros não. Ao deparar com o que não pode                      ser mudado, o melhor a fazer é aceitar a situação,                      esquecer esses erros e se concentrar apenas no que pode ser                      melhorado.                     
 • Achar um meio-termo.                      Quem sofre de baixa auto-estima costuma seguir a linha                      de pensamento do "tudo ou nada", ou seja: se uma tarefa realizada                      não saiu perfeita, foi um tremendo fiasco. Há                      uma grande diferença entre dizer "Eu fracassei três                      vezes" e "Eu sou um fracasso". Segundo os psicólogos,                      é preciso se esforçar para encontrar um meio-termo.                      Uma tarefa que não saiu perfeita dessa vez pode ser                      melhorada no futuro.                     
 • Dar um sentido                      à vida. Um estudo do Instituto de Envelhecimento                      da Universidade da Flórida concluiu que pessoas que                      dão um sentido à vida, prestando serviços                      comunitários ou investindo numa segunda carreira, se                      sentem mais satisfeitas consigo mesmas e apresentam auto-estima                      elevada e estável.                     
 • Focar os aspectos                      positivos. A pessoa que sofre de baixa auto-estima tende                      a concentrar sua atenção apenas nos aspectos                      negativos de determinada situação. Se o chefe                      menciona os pontos fortes e fracos de um projeto apresentado,                      por exemplo, ela vai lembrar e remoer apenas as críticas,                      ignorando os elogios. Ao se concentrar nos pontos positivos,                      a percepção do indivíduo sobre a mesma                      situação muda para melhor.                     
 • Comentar com                      a família e os amigos as realizações                      positivas. Um estudo publicado no Journal of Personality                      and Social Psychology, da Associação Americana                      de Psicologia, concluiu que alardear o próprio sucesso                      ajuda a reforçar a autoconfiança e a elevar                      a auto-estima e neutraliza os pensamentos de autodepreciação.                                          
 • Fazer ginástica.                      Vários estudos mostram que a prática regular                      de exercícios ajuda a elevar a auto-estima. Numa pesquisa                      da Universidade do Arkansas, nos Estados Unidos, um grupo                      de estudantes que começou a praticar exercícios                      regularmente passou a ter uma percepção mais                      positiva de si próprio. Outro estudo, da Universidade                      de Illinois, concluiu que a ginástica aumenta a auto-estima                      dos praticantes porque melhora a saúde e a qualidade                      de vida em geral.                     
 Uma pesquisa concluída                      no ano passado pela filial no país da International                      Stress Management Association (ISMA-BR) constatou que os brasileiros                      possuem auto-estima baixa em comparação com                      os americanos e os franceses. O estudo foi feito com 760 brasileiros                      entre 23 e 60 anos de Porto Alegre e São Paulo. O mesmo                      número de pessoas foi entrevistado nos Estados Unidos                      e na França. Segundo a pesquisa, 59% dos brasileiros                      sofrem de baixa auto-estima, contra 22% dos americanos e 27%                      dos franceses. Em compensação, em matéria                      de otimismo, o brasileiro está nas alturas: 67% dos                      pesquisados disseram ser otimistas, contra 54% dos americanos                      e 49% dos franceses. "Apesar de terem baixa auto-estima, os                      brasileiros são os que mais têm esperança.                      Eles sempre acham que hoje está ruim, mas amanhã                      vai ficar melhor", analisa a psicóloga Ana Maria Rossi,                      coordenadora do estudo.                    
 Durante a pesquisa,                      Ana Maria constatou que, para a maioria dos brasileiros, considerar-se                      bem-sucedido é uma atitude arrogante. Diz ela: "Existe                      no Brasil uma cultura de condenar quem se vangloria das próprias                      realizações e de enaltecer a humildade. Isso                      acaba por minar a auto-estima das pessoas, que começam                      a acreditar que não são merecedoras de seus                      feitos mais ambiciosos". A arrogância costuma ser confundida                      com auto-estima em excesso. O poeta e escritor alemão                      Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) dizia com a solenidade                      característica que "um erro grave é tanto se                      julgar mais do que se é quanto se estimar menos do                      que se merece". A moderna psicologia não aceita mais                      a idéia de que alguém possa ter auto-estima                      em excesso. Seria como ter saúde em excesso. Os complexos                      de superioridade e a arrogância pertencem a outra natureza.                      Uma pessoa com auto-estima elevada acredita que tem o controle                      da própria vida, sente-se confiante em lidar com os                      contratempos e almeja alcançar o sucesso na vida pessoal                      e profissional. Simples.                       
 
                                                                |                                                         | Lailson Santos 
  |  "TINHA MEDO
 DE SER REJEITADO"
  O paulista Ronaldo                            Yamashiro, de 34 anos, foi um adolescente tímido.                            Nunca conseguia uma namorada porque temia conversar                            com as meninas e ser rejeitado. Yamashiro só                            ganhou autoconfiança quando começou a                            praticar jiu-jítsu. "Fiquei mais forte fisicamente                            e isso me deixou mais seguro", diz ele, que está                            noivo de Marilys Sucena e se tornou professor de jiu-jítsu.                           | 
                   
                    
                                                                |                                                          | Lailson Santos 
  |  "EU ME SENTIA
 UMA FARSA"
  A baixa auto-estima                            quase acabou com a carreira da modelo paulista Janaina                            Izzo, 30 anos. Ela era insegura, carente e compensava                            seus problemas comendo em excesso. A insegurança                            fazia com que não se empenhasse na profissão.                            "Achava que me faltavam atributos físicos e intelectuais,                            me sentia uma farsa, ficava ansiosa, comia muito e depois                            vomitava tudo", diz ela, que vivia faltando aos testes                            das agências. Janaina resolveu procurar a ajuda                            de um terapeuta quando chegou ao fundo do poço.                            "Com a terapia, comecei a perceber que era capaz de                            virar o jogo e ter sucesso na profissão que havia                            escolhido."                         | 
                   
                    
                                             |                                                          | Ernani d'Almeida 
  |  "OLHEI PARA O
 LADO POSITIVO"
  A cardiologista                            alagoana Rosa Celia Barbosa foi mandada a um internato                            para crianças carentes aos 7 anos. Sentiu-se                            abandonada e entrou em depressão. Mais tarde                            percebeu que, se continuasse rejeitando sua condição,                            se tornaria uma pessoa amarga. "Precisei escolher entre                            dois caminhos: ficar me lamentando ou me apegar ao aspecto                            positivo da situação, o acesso aos estudos",                            ela conta. Rosa preferiu a segunda opção.                            Hoje, é uma das médicas mais conceituadas                            do Rio de Janeiro em sua especialidade.                         | 
                   
                    
                                                                |                                                          | Lailson Santos 
  |  "ACORDAVA E NÃO
 TINHA VONTADE
 DE FAZER NADA"
 O DJ paulista                            Sidney Pereira, de 43 anos, teve uma crise de auto-estima                            no fim do ano passado, ao ter de fechar sua empresa.                            Na mesma época, sua mulher engravidou de Maria                            Carolina, a primeira filha do casal. "Eu tinha duas                            pessoas para cuidar e as coisas estavam indo de mal                            a pior. Passei a ter dores pelo corpo, acordava e não                            tinha vontade de fazer nada", ele recorda. Segundo Pereira,                            o apoio da família e dos amigos o ajudou a superar                            a crise. "Eu estava fragilizado e não tinha forças                            para me reerguer sozinho. Esse apoio foi fundamental                            para recuperar minha auto-estima."                           | 
                   
                    
                                                                |                                                          | Miriam Fichtner 
  |  "DECIDI ENFRENTAR O PROBLEMA"
  O diretor de marketing                            gaúcho Carlos Alberto Filho, de 44 anos, é                            gago. Na infância, teve de agüentar piadas                            de mau gosto que minaram sua auto-estima. Embora não                            gostasse de ciências exatas, cursou engenharia                            porque, nessa profissão, não precisaria                            falar muito. "Quando me formei, vi que aquilo não                            me faria feliz. Decidi então enfrentar o problema                            para superá-lo", diz ele, que largou a engenharia                            e se tornou vendedor. "Aprendi a me comunicar também                            com gestos e enriqueci meu vocabulário lendo                            muito. Hoje, dou palestras com foco em marketing e vendas."                           | 
                   
                    
                   Com reportagem                      de Leoleli Camargo,                      Denise Dweck e Thomaz Favaro